quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Aforismos, intimidades e ódio à vida: Jadiel Tenro.

Soa confusa a alusão às paixões da alma - o mesmo ideal carnavalizado de Nietzsche - quando levada em consideração tamanha a aridez oriunda do sertão Pernambucano, vigente e latente ainda nas palavras do poeta Jadiel Tenro (que a propósito de tenro não tem nada). Sem ofensas à Pernambuco, referindo-me apenas a aridez, Jadiel Tenro carrega seus textos com a desumanização apaixonada quase animal (no sentido restrito da palavra) que tão bem retrata sua personalidade; homem de poucas palavras, não pelo humor, mas por não acreditar que elas mesmas possam trazer a honestidade que o olhar facilmente traduz, crente em si mesmo e crente na desgraça que a humanidade arrebanhada, massificada carrega consigo mesmo. Apesar de sua pobre formação acadêmica, Jadiel é lapidador de pedras, como diria João Cabral. Há em seu aspecto bestial (no sentido também restrito da palavra) a necessidade, assim como as bestas, de ruminar seu alimento - as palavras, engoli-las, novamente rumina-las e com toda a amargura de seu desgraçado ser, cuspi-las para que passem a ser ofensas para outros ouvidos que não os de sua pútrida consciência. É o que faz no poema "Ode ao trabalho". O autor ruminante de amarguras ataca a instituição trabalho bem como seria de sua índole; refuta com indulgência a virtude do milagre laboral, rebaixa a boa vontade, do crescimento social que emanam da atividade produtiva e por não ser alguém apto às condutas sociais vocifera, reverberantemente sua insatisfação e inadequação:

"O insustentável repetir dos homogêneos dias"

E seu ódio perpassa a rotina diária e se expande à era em que todos vivem:

"Século Maldito! Metas não plausíveis." 
"Carpe diem! - Bah! - há tempos dissolúvel"

Há de se admitir que toda a "cretinice" do autor - utilizando algo de sua alcunha - é aliviada pela magnifica construção, posição das palavras e elementos fônicos que divertem os ouvidos, porém suas manifestações anarquistas ainda o prendem às prateleiras empoeiradas da insignificância poética. 

Trujillo Sonnel

     

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