"Nas palavras meus demônios adormecem. Nas palavras alguns deles até vão embora."
É catártico. Quebrar pedras, lapidar, é isso; quando se tem a pedra bruta, ancestral, não há ideia do que pode vir a ser; até pode se ter uma longínqua visão, empoeirada, do que se quer obter, mas então, após umas marteladas, estacadas, lixadas, ela vai ganhando a forma da alma. Não é desvalido a arbitrariedade de Saussure - nem tudo tem sentido etmológico - e aí reside a beleza de tudo.
Jadiel é como João Cabral sim, mas não golpeia as pedras pensando nas jóias que advirão, não o faz "gracilianamente". Talvez até tenha ouvido algum doutor letrado balbuciar a filosofia da composição de Poe em algum contexto pseudo-intelectual "cult" acadêmico, mas não se pauta por tais tagarelices. Para Jadiel as palavras são tumores, são males que não devem ficar; não há glória em escrever, não há significados construídos, só há fotografias da alma. Não há insignificância poética - para ele isso já é contraditório, paradoxo, já que as palavras, por si, filologicamente são insignificantes, são arbitrárias, o que vale é o sentimento, a angústia que carregam como valor absoluto, a recepção que terão no seu destino, é como a chegada de alguém após eras, tudo depende da saudade de quem fica para o reencontro memorável.
"Escrever é como carregar água com peneira" - definição simples, porém louvável! Escrever é coisa que se faz não pelo fim, mas pelo processo; é arte pela arte, é o despejo do que se sente no fundo da alma sem que se espere a forma. É catártico, apenas para frisar. E se há aridez nas palavras de Jadiel, há também honestidade poética, há coração, mesmo que não tenro. Só não há a plasticidade estética construída por nenhum manual de poesia.
Jadiel Tenro
Jadiel Tenro
Nenhum comentário:
Postar um comentário