terça-feira, 17 de outubro de 2017

Dissolução.


Dissolve e não coagula mais.
Sem rimas, apenas ira nas palavras.
Manhã escura de primavera mentirosa.
Não há fita que se prenda ao cabelo!

Flores do mal, flores mortas e secas,
torna o poeta albatroz de Baudelaire,
preso às suas inertes asas poéticas.
Não há flores na fita do cabelo!

Constrói-se e destrói-se mordazmente.
As cores vivas do desenho labial destilam a peçanha.
Sepulta-se no silêncio o momento ideal.
Já faz falta as flores no cabelo!

O sonhar desperta em pesadelo;
é fatal o desprezo.
Nem fita, nem flores; só desprezo.

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Queda em espiral.

Decepção

        Decepção

                 De não ser opção

                           Decaptação

                                    Desilusão

                                          De sua ilusão

                                                    Apenas sua ilusão 

                                                              Decepopção

                                                                      Decepeailusão


Jadiel, você é um bosta. Apenas lembre-se de seu lugar.

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Então, tudo é ideia.

Março. Primeiro dia de um mês quente, derradeiro do verão.
Vinte e uma horas.

A imagem que se vê é pintura fresca; tinta ainda exalando o odor de óleo; tons pálidos, assim como o ensaio do luto. O que acontece aqui é um diálogo silencioso memorável , que tem origem na origem de tudo: vida e morte.No centro da obra a tríade sagrada familiar: pai, mãe e filho - mãos dadas em uma espera única, inevitável evento - mãe e filho aguardam com pesar a partida do pai rumo a sua última viagem. O patriarca arranca com vigor dos pulmões debilitados os resquícios de ar que ainda permeiam sua vida. Das mãos inertes emana ainda algum calor e os olhos cerrados derramam lágrimas tímidas que demonstram que aquilo é adeus; não o adeus desalentado de quem está ainda preso ao mundo carnal das representações, é o adeus de quem já dialogou com a morte, já a espera, já sente que é o momento.  

Vinte e uma horas e cinco minutos. 

A mãe lembra a terceira faceta da tríade que é necessário que se resgate os sentimentos, é a hora de passar o poema a limpo. Palavras raquíticas, constringidas pela gruta árida da garganta; presas ao mulambo da língua. Aos poucos o filho, balbuciante, diz o que lhe oprime a alma; abre-se o abismo existente entre aqueles dois homens tão próximos e tão distantes - é a hora do perdão - as palavras trêmulas são respondidas com lágrimas de líquido brilhante, o fluído da vida que se esvai. A mãe, com a sabedoria maternal, sutilmente diz que é hora: - "Está sendo desligado." - diz em voz delicada, seguindo seus dogmas. É a hora.

Vinte e uma horas e dez minutos.

Os três corpos, as seis mãos que se entrelaçam. A figura tão aterradora para muitos, a figura ceifadora dos séculos, aquela que dizimou populações, aquela que dilacerou corações menos atentos à sua presença, agora se faz silenciosa e sutil. Ela é quase bem-vinda. É presença aliviante. São momentos de reflexão que transformam eras em minutos. Como a armadura da alma, o corpo, findará? O filho conhece o pai por sua presença física, sua representação platônica. Eis o momento de transformação: o corpo físico, a presença carnal se transmutará em ideia. Aquela figura paternal sisuda, de autoridade, estava se acabando. O físico se tornando etéreo. O filho entende que lhe faltará a presença e lhe restará a ideia, a poltrona do canto da sala ficará vazia, como diz a canção. 

Vinte e uma horas e doze minutos.

É a hora. Em seu último suspiro o pai devolve ao universo a fração de ar que tomara emprestado décadas atrás. Apenas seu corpo jaz no leito. Agora viverá no mundo ideal. Adeus.  

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Fita com flores


A imagem da manhã do novo dia
emblemática, causa frenesi, singelo apelo.
Evade-se a boçal melancolia;
Ela traz fita com flores no cabelo!

As flores que hoje se abrem no calor,
amanhã padecerão em sarcófago de gelo.
É preciso extrair da vida o ardor;
Ela traz fita com flores no cabelo!

A rubra cor do desenho labial,
a cova que sepulta na pele o segredo,
desenham alma adentro o momento ideal;
Ela traz fita com flores no cabelo!

O sonhar espreita já a realidade,
advindo da fatalidade;
Ela traz fita com flores no cabelo!

A genealogia do desejo é espontânea,
o poeta sonha que seja ela simultânea;
Ela traz fita com flores no cabelo!


Jadiel Tenro 

"Nas palavras meus demônios adormecem. Nas palavras alguns deles até vão embora." 


É catártico. Quebrar pedras, lapidar, é isso; quando se tem a pedra bruta, ancestral, não há ideia do que pode vir a ser; até pode se ter uma longínqua visão, empoeirada, do que se quer obter, mas então, após umas marteladas, estacadas, lixadas, ela vai ganhando a forma da alma. Não é desvalido a arbitrariedade de Saussure - nem tudo tem sentido etmológico - e aí reside a beleza de tudo. 
Jadiel é como João Cabral sim, mas não golpeia as pedras pensando nas jóias que advirão, não o faz "gracilianamente". Talvez até tenha ouvido algum doutor letrado balbuciar a filosofia da composição de Poe em algum contexto pseudo-intelectual "cult" acadêmico, mas não se pauta por tais tagarelices. Para Jadiel as palavras são tumores, são males que não devem ficar; não há glória em escrever, não há significados construídos, só há fotografias da alma. Não há insignificância poética - para ele isso já é contraditório, paradoxo, já que as palavras, por si, filologicamente são insignificantes, são arbitrárias, o que vale é o sentimento, a angústia que carregam como valor absoluto, a recepção que terão no seu destino, é como a chegada de alguém após eras, tudo depende da saudade de quem fica para o reencontro memorável. 
"Escrever é como carregar água com peneira" - definição simples, porém louvável! Escrever é coisa que se faz não pelo fim, mas pelo processo; é arte pela arte, é o despejo do que se sente no fundo da alma sem que se espere a forma. É catártico, apenas para frisar. E se há aridez nas palavras de Jadiel, há também honestidade poética, há coração, mesmo que não tenro. Só não há a plasticidade estética construída por nenhum manual de poesia.  

Jadiel Tenro  

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Aforismos, intimidades e ódio à vida: Jadiel Tenro.

Soa confusa a alusão às paixões da alma - o mesmo ideal carnavalizado de Nietzsche - quando levada em consideração tamanha a aridez oriunda do sertão Pernambucano, vigente e latente ainda nas palavras do poeta Jadiel Tenro (que a propósito de tenro não tem nada). Sem ofensas à Pernambuco, referindo-me apenas a aridez, Jadiel Tenro carrega seus textos com a desumanização apaixonada quase animal (no sentido restrito da palavra) que tão bem retrata sua personalidade; homem de poucas palavras, não pelo humor, mas por não acreditar que elas mesmas possam trazer a honestidade que o olhar facilmente traduz, crente em si mesmo e crente na desgraça que a humanidade arrebanhada, massificada carrega consigo mesmo. Apesar de sua pobre formação acadêmica, Jadiel é lapidador de pedras, como diria João Cabral. Há em seu aspecto bestial (no sentido também restrito da palavra) a necessidade, assim como as bestas, de ruminar seu alimento - as palavras, engoli-las, novamente rumina-las e com toda a amargura de seu desgraçado ser, cuspi-las para que passem a ser ofensas para outros ouvidos que não os de sua pútrida consciência. É o que faz no poema "Ode ao trabalho". O autor ruminante de amarguras ataca a instituição trabalho bem como seria de sua índole; refuta com indulgência a virtude do milagre laboral, rebaixa a boa vontade, do crescimento social que emanam da atividade produtiva e por não ser alguém apto às condutas sociais vocifera, reverberantemente sua insatisfação e inadequação:

"O insustentável repetir dos homogêneos dias"

E seu ódio perpassa a rotina diária e se expande à era em que todos vivem:

"Século Maldito! Metas não plausíveis." 
"Carpe diem! - Bah! - há tempos dissolúvel"

Há de se admitir que toda a "cretinice" do autor - utilizando algo de sua alcunha - é aliviada pela magnifica construção, posição das palavras e elementos fônicos que divertem os ouvidos, porém suas manifestações anarquistas ainda o prendem às prateleiras empoeiradas da insignificância poética. 

Trujillo Sonnel

     

AFORISMOS DE MINHA INTIMIDADE



Inquietante é a dominação da mente sobre a alma; aquela mascara o que não quer ver, esta adormece sem saber.



Explode!...



Caem as barreiras e Psique, como o pastor que bane com os braços em desesperado afã de conter o rebanho de ovelhas acometidas pelo lobo - faminto e sedento de sangue e caos, se vê nulo, zero - NIHIL - Ah! Oh estouro de mim mesmo! De onde vem essas amarras? De quando as paixões da alma foram feitas devassas? Há de ser a chuva de percepções além-sentidos a libertadora do que os hiperbóreos devem ser? Seremos então os hiperbóreos dentro da casca falível, feia, obtusa, de seres desapaixonados? E que mal há no despertar?



Arbitrariedades! Já basta!

Em algum ponto, algum ignóbil pensou que vãs palavras haveriam de definir, expressar, desenhar e colorir o inesgotável e profundo senso que há em nós.


Arbitrariedades! Já basta!

Em cada um há um universo grandioso e supremo - Olímpico. Por que o massacre ancestral do deus que é individual? As amarras dogmáticas esganam ao invés de amparar! Morfeu, só há refúgio em seu reino! 
Grito! Brado! Ânsia de não ser somente isso.
Grito: - Bravo! Aplausos à inverdades e desatinos!
Grite! Pulse! És a gema fecunda! 
Pulse! Brade! És a vida fecundada! 
O animal que busca a caça ofega; assiste: enumera possibilidades.
Assume, em riste: espreita a roda da fortuna.
Ouve! Suga da lógica dados tristes!
Tudo culmina no apogeu da perfeição onipotente - não há nada humano, nada do que foi criado; cunhado
- VIDA! é a sagração do que há interno.
- VIDA! é o instinto latente.
- VIDA! sem controle e amarras.


- SOU.




Jadiel Tenro








quarta-feira, 27 de setembro de 2017

ODE AO TRABALHO

Náuseas psicodélicas atacam meu ego
O insustentável repetir dos homogêneos dias,
No insulto da rotina faço-me cego;
Vilipêndios burocráticos e suas heresias.

Liberdade utópica inexiste na alienação,
Crueldade retórica sob cunho de motivação.
Século Maldito! Metas não plausíveis.
Verdades pós-criadas de notícias inaudíveis.

Carpe diem! - Bah! - há tempos dissolúvel.
Síndromes consomem o saudoso "bom selvagem"
Dogmas mascaram paraíso em vassalagem.
Cretinice e controle ocupando o mesmo núcleo.

Embotado na garganta o brado não heróico
há de expurgar a melancólica fadiga.
Apenas a coragem de bradar dilui a rima,
e com toda a energia retumba o FODA-SE estóico. 


Jadiel Tenro